Valorização

Zona Sul vira destaque no Prêmio Arte na Escola Cidadã

Trabalhos do Capão do Leão e de Pelotas estão entre os 302 semifinalistas do país; antes eram 1.182 candidatos

Dois projetos desenvolvidos em instituições públicas de ensino da Zona Sul destacam-se em nível nacional e viram semifinalistas do 20º Prêmio Arte na Escola Cidadã, que conta com a cooperação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Os trabalhos realizados na Escola Estadual de Ensino Médio Jardim América, no Capão do Leão, e na Escola Municipal Francisco Carúccio, em Pelotas, competiam com outros 1.182 candidatos e, agora, integram lista em que restaram apenas 302 projetos. A relação com os 20 professores finalistas será conhecida nesta sexta-feira (30).

Na segunda-feira, portanto, o Diário Popular foi até a Escola Jardim América. Teatro, dança, vídeo. Um olhar voltado às artes. Em 2017, quando a instituição entrava no terceiro ano de funcionamento, nascia um projeto que saiu da sala de aula e se transformou em peças, performances e documentários. Hoje, a iniciativa - que começou nas disciplinas de Português e de Arte - chega ainda mais longe. Rompe fronteiras da região e do Estado.

Em bate-papo descontraído, ouvimos a professora Ângela Corrêa Papaiani e as estudantes Laureni Cardoso Mendes, 51, Maria Alice Pedra da Silva, 54, e Luana Castro Belém, 16. E se a estrutura é simples, enquanto a instituição não possui prédio próprio - com espaços que seriam fundamentais ao Ensino Médio -, educadores e alunos focam-se em superar adversidades e investir em projetos que tornem o processo de ensino-aprendizagem convidativo. E tem dado certo. Muito certo.

"Quando entrei na escola, em 2017, tinha vontade de participar, mas tinha vergonha. Aos poucos, me apaixonei, Cheguei a chorar comigo mesma", conta Laureni, que rompeu a timidez e se descobriu com grandes sacadas de humor ao teatro. Atualmente, a estudante do 3º Ano do Ensino Médio não se prepara apenas para ajudar a definir o roteiro da encenação de 2019. Laureni reforça a convicção de que não se afastará mais dos estudos, como ocorreu ainda na adolescência. Embora não tenha definido para qual curso tentará uma vaga, está decidida: irá fazer as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em novembro - conta e já projeta uma possível comemoração com a filha Thaís, de 21 anos.

É um entusiasmo que contagia. E se na hora dos espetáculos é preciso improvisar espaços, cenários e figurinos, não importa. Os ensaios, às vésperas das estreias, não raro, também precisam contar com apoio de outros professores, que cedem parte do tempo de suas disciplinas para jovens e adultos poderem estar prontos para entrar em cena. A escola funciona apenas à noite. Durante o dia, as instalações pertencem à Escola Municipal de Ensino Fundamental Barão de Santo Ângelo. E também, ao longo de manhã e tarde, grande parte dos 213 estudantes está no trabalho.

"É muito bonito ver neles a esperança. Através do projeto, eles explodem", enfatiza Ângela Papaiani. "Conseguimos mexer com motivação, com autoestima".

Encontro de gerações
Quando Maria Alice da Silva, 54, visitou a Escola Jardim América, em 2017, o objetivo era apenas um: buscar vaga para afilhada. E conseguiu. Mas foi muito além. Decidiu retornar aos bancos escolares, abandonados no começo dos anos 1980, na adolescência. "Éramos oito irmãs. Tive que parar de estudar, pra começar a trabalhar e as menores poderem se alfabetizar", relembra.

Hoje, já sonha com a Faculdade de Turismo e torce para a nova fase servir de estímulo ao caçula de três filhos também investir forte nos estudos. E nesse clima de otimismo, admite: "Já tô ansiosa com a próxima peça". É um convite para a plateia se preparar para mais uma comédia: "É só a gente fazer a escola rir".

Quem também vibra quando o tema é teatro é a jovem Luana Belém, 16, aluna do 2º Ano do Ensino Médio. "É uma das melhores maneiras de a gente se manifestar. Sempre fui desenvolta e quis participar do projeto logo de cara", conta a adolescente, ao destacar a troca de experiências com o encontro de diferentes gerações em sala de aula. "Todo mundo acaba aprendendo".

Na Escola Francisco Carúccio, teatro para formação cidadã
As criações têm o toque e a assinatura dos próprios alunos. Ao dar início ao projeto Teatro no Caruccio, o professor Diego Fogassi Carvalho estava determinado a empoderar a gurizada como autores de suas próprias histórias. E assim fez. Em 2019, as atividades em turno inverso são dirigidas aos estudantes do 3º ao 5º Anos do Ensino Fundamental.

Para inscrever ao Prêmio Arte na Escola Cidadã, Diego incluiu os resultados obtidos, em 2018, com adolescentes do 6º ao 9º Anos. "Durante as aulas sempre busquei explorar como eles podem criar histórias. É uma forma de valorizar a capacidade e a criatividade dos alunos", ressalta o professor, que é também ator e diretor de teatro. E como incentivá-los ao desafio? Com o convite de que suas próprias vivências se transformassem em inspiração. E funcionou.

No ano passado, por exemplo, os jovens trouxeram temas como o bullying, que acabou se convertendo também em web-jornal que incentivasse o comportamento oposto. "Foi uma maneira de promover às famílias uma reflexão sobre como enxergamos o outro e a si mesmos", ressalta Diego Carvalho. Mergulhar na literatura sugerida pelos alunos, não raro, também vira ferramenta às criações. São processos que não se encerram apenas no universo da escola, como atrativo em turno inverso. Ao dar vida a projetos como o Teatro no Carúccio, o investimento é maior: aposta-se na formação de novos espectadores e apreciadores culturais - ressalta o professor.

Conheça o Prêmio
O Prêmio Arte na Escola Cidadã, promovido pelo Instituto Arte na Escola, foi criado no ano 2000, com alvo certeiro: despertar e valorizar projetos transformadores, colocados em prática por professores de Arte de todo o Brasil. Nesta 20ª edição, 1.182 trabalhos foram inscritos entre as cinco categorias: Educação Infantil, Ensino Fundamental (1º ao 5º Anos), Ensino Fundamental 2 (6º ao 9º Anos), Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA). O professor vencedor ganhará prêmio em dinheiro e a escola receberá computador e câmera digital.

As iniciativas da Escola Estadual de Ensino Médio Jardim América, no Capão do Leão, e da Escola Municipal Francisco Carúccio, em Pelotas, integram a lista de 21 projetos gaúchos entre os 302 semifinalistas do país.

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